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05/12/2012, 19:50h | Notícias

Juventude em movimento

Por Thiago Ansel

Nos dias 23 e 24 de novembro o Rio de Janeiro recebeu coletivos, movimentos e organizações culturais e midialivristas de diversos estados do país para a segunda oficina do Participatório: Observatório Participativo da Juventude, uma plataforma online que também funciona como rede social voltada para a mobilização e o exercício do controle social. A iniciativa é uma ação do Plano Juventude Viva, da Secretaria Nacional de Juventude, que visa reduzir a violência contra a juventude brasileira, sobretudo, a negra.

O Brasil é o país onde mais se mata jovens no mundo. Somente em 2011 foram cerca de 28.000, repetindo a tendência de queda no número de jovens brancos e aumento do mesmo tipo de crime contra negros. Dados do Ministério da Saúde dão conta de que no ano de 2010 53,3% das 49.932 vítimas de homicídios eram jovens. Entre eles 76,6% negros e 91,3% do sexo masculino.

O Participatório tem como objetivo principal intensificar a troca de informações e experiências entre jovens, pesquisadores e ativistas para assim ampliar as possibilidades de incidência política e mobilização social, principalmente em relação à violência.

participatorioRJ209090909O encontro, realizado primeiro no campus Praia Vermelha da UFRJ e, no dia seguinte, na ONG Viva Rio, buscou apresentar o projeto e envolver no Participatório as redes de comunicação e cultura que já vem promovendo a participação social e a mobilização de jovens pela Internet. Estiveram presentes organizações em geral de juventude, mas com diferentes perfis como a Revista Viração, Fórum de Juventudes, Agência de Redes para a Juventude, a Escola Popular de Comunicação Crítica da Maré, Outras Palavras, Fora do Eixo, Núcleo ICA, Movimento Enraizados, o Festival Literário das UPPs (Flupp), Rede da Batalha do Passinho, Agência Solano Trindade, Pontão da Eco e Central única das Favelas (CUFA).

Apesar da heterogeneidade dos integrantes, o ponto de partida desta nova rede será o tema dos altos índices de homicídio entre a juventude negra, residente em áreas pobres. “Todos que tiverem interesse em participar da rede social podem criar um perfil. No Facebook, por exemplo, as pessoas se relacionam por meio da amizade, nesta plataforma a relação se dá por temas afins”, explicou Gleide Braga, assessora da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ). Haverá também integração do Participatório com outras redes sociais como o Twitter e o Facebook. Assim o usuário não precisará sair de uma rede para postar ou compartilhar informações.

A primeira dúvida do público jovem, que lotou a sala de aula-contêiner da Escola de Comunicação da UFRJ, foi a respeito do controle governamental sobre as publicações na plataforma virtual. A rapper Refém levantou a questão: “Disseram que declarações ofensivas serão tiradas do ar. Gostaria de saber o que o governo considera conteúdo ofensivo, já que essa justificativa pode ser usada para censurar postagens ou comentários críticos as ações do Estado”.

Pedro Prata, assessor da SNJ, respondeu à questão afirmando que para a Secretaria é fundamental conhecer as demandas e reivindicações de seu público. “Para nós é muito importante que os movimentos de juventude questionem e pressionem. A Secretaria não pode, por exemplo, criticar ações dos governos estaduais, mas se o jovem quiser ele pode”, respondeu. Segundo os assessores da SNJ haverá uma espécie de comitê de acompanhamento e monitoramento do Participatório, o qual dará origem a um grupo gestor da plataforma, composto também por representantes da sociedade civil.
Prata disse ainda que a plataforma é desenvolvida a partir de software livre, que também poderá ser usado por quem se interessar. “Para nós faz mais sentido desenvolver do que comprar esta ferramenta. Todos poderão usar o software do Participatório. Portanto, é um recurso público utilizado para um programa de utilidade pública”, ressaltou.

Para a diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, Ivana Bentes, que participou dos dois dias de encontro, o software livre atualmente torna-se interessante, sobretudo, para pensar novas formas de participação. “Milhões de pessoas colaboram com um código aberto, criado por qualquer um. Empresas como a Apple se utilizam desta mesma base, mas, em dado momento, elas fecham esse código e vendem o programa”, acrescentou.

O aluno da Escola Popular de Comunicação Crítica, Raul Santiago, embora considere positivas as políticas voltadas para a redução da violência e letalidade da juventude negra, acha que é possível radicalizar a participação daqueles diretamente impactados pelas violações de direitos. “Achei o Participatório e o Juventude Viva passos importantes. Agora, quanto ao primeiro, não é tudo que a gente quer porque ainda há um núcleo que administra a plataforma. Estamos aí ativamente, mas não é 100%. Temos que aproveitar estas brechas para sermos fontes de mudança, porque o governo somos nós também”.

No segundo dia de encontro, os jovens puderam opinar, tirar dúvidas e discutir sobre o Plano Juventude Viva, que foi apresentado através de um panorama descritivo do conjunto de suas ações. Representantes da Secretaria Nacional da Juventude anunciaram ainda a publicação de um edital voltado para o apoio a ações promovidas pela juventude negra. “Queremos saber o que os jovens esperam para o dia da Consciência negra em novembro de 2020. Este será o mote deste edital de provocação à juventude”, contou a assessora da SNJ, Luciane Reis, que anunciou ainda o lançamento da campanha de mídia do Plano Juventude Viva, com a participação do ator Darlan Cunha (o Laranjinha de Cidade dos Homens). “O Participatório pretende ser um espaço interativo de promoção da participação, já a campanha tem a intenção de humanizar os jovens negros para que todos entendam que aqueles que foram mortos poderiam ser nossos filhos”, concluiu.

O Plano Juventude Viva atuará em 132 municípios, que atualmente concentram 70% dos homicídios de pessoas com idades de 15 a 29 anos. A implementação da política se dará a partir de acordos com os governos municipais e definição de planos de ação locais.

Clique aqui para assistir ao vídeo referente à campanha.

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