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14/11/2012, 20:10h | Notícias

Literatura sobe o Morro

Por Silvana Bahia

Entre os dias 7 e 11 de novembro o Morro dos Prazeres foi palco de uma linda festa embalada pela literatura, a 1ª Flupp – Festa Literária Internacional das Upps. Para receber o evento foi montada uma mega estrutura dividida em três partes da favela: Tenda Bruzundanga – Flupp Parque, destinada ao público infanto-juvenil; o Espaço Clara dos Anjos, no Casarão dos Prazeres, que abrigou exposições e livraria; e a Tenda Policarpo Quaresma, na quadra de esportes, que recebeu os debates, as palestras, saraus e lançamentos.

Morro dos Prazeres em Santa Teresa foi palco da 1ª Flupp

Morro dos Prazeres em Santa Teresa foi palco da 1ª Flupp Foto: Site da Flupp

Com direção geral de Écio Salles, Heloisa Buarque de Holanda, Julio Ludemir e Luiz Eduardo Soares em sua 1ª edição a Flupp homenageou o escritor Lima Barreto. A abertura, no Morro do Fallet, teve a presença de Ariano Suassuna, Bráulio Tavares, Mv Bill e Mc Swat – rapper libanês. Outros autores expressivos da literatura brasileira também passaram pela Flupp, como Ana Maria Machado, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar entre outros.

Elisa Lucinda fechou o último dia com seu monólogo “Pare de falar mal da rotina” e disse que um projeto como este é totalmente político porque mexe com a cidade. “O que me deixa feliz é que essa ‘fluppezação’ abre portas para identificar os dons que existem nesse e em outros lugares estigmatizados pela violência muitas vezes”, observou a autora.

Escritores internacionais marcaram presença, além de pessoas de todas as partes da cidade que subiram as ladeiras de Santa Teresa para ver com os próprios olhos a primeira festa literária na favela. Uma verdadeira ocupação cultural com teatro, sarau, rap, lançamento de livros, grafite, oficinas, rodas de conversas e até a batalha do passinho.

Durante os cinco dias de evento a comunidade celebrou a poesia e estreitou seu relacionamento com a leitura. Bianca da Silva de nove anos nunca tinha tido contato com livros e se apaixonou. A menina estava encantada com as histórias contadas na Flupp Parque. Os moradores dos Prazeres abraçaram a ideia participaram efetivamente das atividades sugeridas. “É maravilhoso ver o morro assim, tão cheio de pessoas discutindo arte e literatura” ponderou o estudante Alan Alves de 21 anos, morador dos Prazeres.

A Flupp reuniu pessoas de diferentes lugares, estilos e idade. Um evento plural que “falou” para públicos diversificados.  A jovem Karina Vieira, moradora de Magalhães Bastos, contou que a possibilidade de participar de uma feira literária e o lançamento do livro de três amigos foram o que a atraiu pra Flupp. “Vim três dias e estou encantada com a ideia do projeto de fazer uma feira literária na favela. Além desse lugar ser lindo demais, eu achava que conhecia Santa Teresa e hoje vejo que não conheço mesmo”, falou Karina que também acha que a Flupp deve acontecer em outros lugares da cidade.

Novos autores

Outro momento emocionante foi o lançamento do livro de 43 novos autores, todos de origem popular. Esse processo se deu a partir da Flupp Pensa – primeiro desdobramento da Flupp – que durante os meses de março a julho percorreu 13 favelas cariocas. Em cada encontro um autor, editor, ensaísta, analisava os textos de 90 novos escritores. Ao final 43 foram selecionados para terem um conto no livro que foi lançando na Flupp.

Vivian Faria de São Gonçalo, estudante de pedagogia, é autora de um dos contos do livro e contou que enriquecedor o processo da Flupp Pensa, porque foi ali que começou aprender outra forma de escrever.  “Comecei a escrever a partir não mais do que eu sentia, mas de um dispositivo que se relacionava com o que eu sentia sobre aquilo”. Ter contato com os autores também foi muito importante para Vivian, mas lançar o livro “foi fantástico”, segundo a autora.

Os 43 novos autores revelados na Flupp Pensa Foto: Site da Flupp

Os 43 novos autores revelados na Flupp Pensa Foto: Site da Flupp

Márcio Januário do Vidigal, ator, cantor e bailarino, disse que a Flupp Pensa foi um marco em sua vida. “Uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida profissionalmente, porque de repente você encontra outras pessoas que querem o mesmo que você e estão lutando pelos mesmos ideais. Eu sempre digo que antes eu era uma ilha e hoje nós somos um arquipélago”, contou o artista que desde criança sempre foi viciado em ler.

A Flupp 2012 acabou, mas para muitos ela vai ser eterna, porque as redes feitas ali já estão gerando outros encontros na cidade. Um evento para ficar na história e memória das favelas cariocas. Uma forma de mostrar que tem muita gente boa fazendo arte por ai. Que projetos como esse tomem conta das periferias e sejam compartilhados por muitos e muitos anos.

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