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06/07/2011, 17:14h | Notícias

Meu mundo teu

Por Cecília Olliveira

Tayana e Jefferson trocam cartas. Foto: Alexandre Sequeira

Tayana e Jefferson trocam cartas. Foto: Alexandre Sequeira

Dois adolescentes que não se conhecem trocam impressões sobre suas realidades a partir de cartas e fotografias. A mescla dessas informações de mundo, apresentadas por Thayana Wanzeler, moradora do bairro do Guamá na cidade de Belém e Jefferson Oliveira, morador da ilha do Combú na região amazônica, compõe uma série de 15 trabalhos que revelam uma nova realidade construída a partir do diálogo estabelecido entre esses dois adolescentes.

Eles foram coordenados pelo fotógrafo e professor do Instituto de Ciências da Arte Universidade Federal do Pará, Alexandre Sequeira, que ao conduzir encontros fotográficos ao longo do ano de 2007, propôs a experimentação de registros fotográficos com câmeras artesanais de um e dois orifícios além de câmeras convencionais com dupla exposição de filmes. O resultado da construção dessa rede de afetos são imagens que confundem diferenças e semelhanças num todo que aponta para novas significações adquiridas a partir desse encontro. O fotógrafo promoveu o conhecimento dos dois adolescentes por cartas e fotografias nas quais ambos descrevem em detalhes seus universos simbólicos pessoais. Este intercâmbio de realidades e experiências deu origem à exposição em “Meu mundo Teu”, com fotos dos dois adolescentes e que está rodando o país.

“Foi uma boa experiência. Foi legal conhecer o professor Alexandre e o Jefferson. Eu não imaginava como era a vida dele em Cambú, mas através das cartas e fotos que ele me mandava, pude imaginar como era sua vida. Gostei muito de trocar experiências com ele”, diz Thayana, que tinha à época do início do projeto, 13 anos. Hoje, ela utiliza os conhecimentos passados por Sequeira de forma independente. “Faço fotos por aqui, de algumas festas locais, como casamentos, por exemplo. Abriu muitas portas”, explica.

A garota agora, pretende alçar vôos mais altos. “Quero cursar administração e me mudar daqui, sair de Belém. Tenho vontade de ir para São Paulo porque aqui não há muitas oportunidades”.

Jefferson, que hoje tem 17 anos, se apaixonou pela fotografia. “É muito legal. Nunca imaginei que as fotos que eu fiz com Thayana teriam aquele resultado. Quando vi as fotos na primeira exposição, me surpreendi. Foi uma surpresa muito boa! Hoje eu continuo fazendo fotografias e dá pra ganhar algum dinheiro. Com certeza é o que quero pra minha vida.” O lucro das fotos feitas para o projeto é igualmente dividido entre os três.

Algumas das fotografias feitas por Jefferson e Thayana

Algumas das fotografias feitas por Jefferson e Thayana

Começo

“No ano de 2007, ao visitar um curso de desenho para crianças no bairro Guamá, região periférica de Belém, conheci Tayana e seus desenhos de paisagens – imagens delicadas e repletas de detalhes que somente alguém que observa o mundo com atenção e curiosidade é capaz de perceber. Poucos dias depois conheci Jefferson, quando cheguei a um agrupamento de três casas em torno de uma clareira aberta no Combú, uma das inúmeras ilhas que circundam a cidade de Belém. Garoto crescido em quintal de cerca, jogando futebol no campo de várzea e tomando banho no rio que passa em frente à sua casa, Jefferson se mostrou imediatamente interessado a aprender a fotografar e fazer uma nova amizade”, explica Alexandre Sequeira.

O Fotógrafo dedicou então, as quintas-feiras e os sábados para, ao longo do ano, respectivamente com Tayana e Jefferson, realizar o que denominaram de “encontros fotográficos”. “Foi assim que ambos estabeleceram contatos com a fotografia e, principalmente, descobriram o outro”, diz Sequeira.

A aproximação dos adolescentes se fez a partir de um diálogo que combinava referências verbais e visuais. A cada encontro, Tayana enviava uma carta a Jefferson (e vice-versa), e as perguntas feitas ao outro, serviam de indutor para respostas que se traduziam, muitas vezes, em imagens fotográficas resultantes de experimentações com fusão de imagens feitas com câmeras artesanais, ou dupla exposição de filmes utilizando máquinas convencionais. Sequeira diz que “foi assim que Tayana, Jefferson e eu, mergulhamos na aventura de recortar e colar fragmentos do real, permitindo-nos contaminar e ser contaminado pelo olhar do outro, confundindo cada vez mais os limites entre nossos mundos”.

Meu mundo Teu – título proposto por Jefferson para este trabalho – “é para nós um documento deste encontro. História construída com parceria, afeto e, acima de tudo, reconhecimento do outro como co-autor da nova feição de mundo revelada”, diz Sequeira.

No último mês a exposição esteve em São Paulo, Rio de Janeiro e Espanha e em outubro será apresentada no Festival de Fotografia de Manaus.

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