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04/07/2012, 23:40h | Notícias

Orkutizando a Rio+20

Por Silvana Bahia

A praça, o salão de beleza, o bar, a casa, o armazém e a laje foram os locais escolhidos em seis favelas do Rio de Janeiro – Batan, Borel, Chapéu Mangueira/Babilônia, Providência, Cantagalo e Cidade de Deus -, para os debates organizados e mediados pelos jovens em parceria com o coletivo Fora do Eixo e o Pontão da ECO no evento que foi chamado de “Orkutizando a Rio+20”.

Orkutização na CDD. Foto: Gabriel Zambom e Marcelo Cabala

Orkutização na CDD. Foto: Gabriel Zambom e Marcelo Cabala

Os jovens da Agência de Redes, organizadora da ideia e com atuação nos locais mencionados, foram convidados pela Secretaria Nacional de Juventude para cobrir a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, contando a versão deles sobre o encontro, mas ao invés de cobrir a Rio+20 eles preferiram ampliar o debate para quem vive nesses territórios. Na pauta da “orkutização”, os temas abordados foram os mesmos da conferência oficial, mas neste caso, os convidados eram os representantes de instituições que atuam nesses espaços e, principalmente, os moradores.

Bruno F. Duarte, mediador de comunicação da Agência de Redes, explicou que a iniciativa de “Orkutizar a Rio+20” teve o intuito de pensar os temas globais a partir de uma perspectiva local, que neste caso são as favelas cariocas. “Existem diversas ações e projetos que pensam o meio ambiente nestes territórios, como o Favela Orgânica na Babilônia, que trabalha com o ciclo do alimento, o Boca de Lixeira no Cantagalo, que organiza mutirões para a coleta de lixo, o Reciclando o Cotidiano no Batan que faz hortas verticais na comunidade. A pauta global já é pauta do local há tempos”, contou o mediador.

O evento aconteceu em dois dias: o primeiro, em 16 de junho, no início da Rio+20 onde foram sugeridos e discutidos os temas considerados importantes por quem vive neste espaços, como coleta de lixo, saneamento básico, entre outros. Já o segundo encontro, no dia 23, foi destinado a propostas trazidas pelos participantes. Nesse sentido, foram elencados os principais eixos de atuação da comunidade para ações que propõem mudanças no que não é considerado positivo em relação ao meio ambiente nesses territórios. A questão do lixo, nas seis favelas, apareceu de forma contundente nos debates. Não apenas o que fazer com o lixo, mas também como produzir menos.

Dessa forma, no Batan, foi pactuada entre moradores, líderes locais e policiais da Unidade de Polícia Pacificadora, a partir dos debates mediados pelos jovens, uma ação na primeira semana de julho, com o nome “Dia D”. Neste dia, as pessoas se comprometeram a fazer um mutirão para limpar e conscientizar os moradores de como é possível viver num lugar mais limpo e agradável, como ressaltou a jovem Carolina Villela, “percebemos que o primeiro passo é a conscientização, mas aquela que convença o morador que desde muito tempo está acostumado a não separar o seu lixo. Além de apresentar iniciativas que existem dentro do Batan e que muita gente não conhece, como uma moradora que junta pilhas usadas e depois dá um destino correto ao material coletado”, contou Carolina.

Nesta perspectiva, na Cidade de Deus, o ponto chave do debate foi à ausência de caçambas para o deposito de lixo. “‎ É obrigação do governo repor as caçambas de lixo na Cidade de Deus. A ‘onda’ de moradores quebrando e ateando fogo em caçambas de lixo para protestar contra a ações da PM já passou. Estamos vivendo um outro momento agora. É preciso sim repor as caçambas,” disse João Silva, morador da Cidade de Deus.

Por que orkutizar?

O termo “orkutização” foi criado para estigmatizar um comportamento de um determinado tipo de usuário na internet que, normalmente, são usuários de classe popular. As atitudes de uma pessoa “pobre” na internet são caracterizadas como orkutização, ou seja, esse termo está intimamente ligado a classe social.  Quando mais pessoas tem acesso a um novo serviço na internet dizem que ele fica “orkutizado”, como é o caso do instagram, do facebook e do próprio Orkut, que no início de 2004 se tornou uma febre entre os jovens mais “antenados” e que depois caiu no gosto popular.

Embora a internet seja uma ambiente que se sugerem uma determinada liberdade ou um território livre, essa é umas das formas de se distinguir dentro da rede. “Porque tudo começa como exclusivo e, normalmente você é convidado a participar dessas redes, onde ‘os cabeças de rede’ são apresentados primeiramente a novas ferramentas ou a serviços exclusivos. Isso é o que dá o tom da distinção na internet”, pondera Bruno F. Duarte.

Quando a Agência de Redes para Juventude cria o evento “Orkutizando a Rio+20” a proposta é popularizar, ampliar o debate sobre as questões pautadas pela conferência. O próprio arranjo da Cúpula dos Povos, evento que propõe a ampliação do debate, mas  de alguma forma, parece que essa expansão da conferência oficial já está prevista pelos organizadores da Rio+20, ou seja, existe um lugar destinado para o “povo”. Nesta direção, a Agência de Redes teve como objetivo a promoção do debate das questões globais articulada com as ações locais.

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