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01/08/2012, 18:46h | Notícias

Qual a diferença entre o charme do Caetano e o funk?

Por Victor Viana

“Perua, piranha!”, “vagaba, vampira!”, “à toa, vadia!”. Essas combinações fazem parte de uma das músicas mais famosas de Caetano Veloso, e também podem ser facilmente encontradas em qualquer letra de funk. No entanto, essas palavras só são aplaudidas na voz do compositor baiano. Quando os mesmos termos são usados por músicos da favela, eles se tornam “vulgares”, de baixo calão. E por isso tem quem diga que nem cultura o funk é. Mas para esses, o Caetano tem um recado: “Me larga, não enche. Você não entende nada e eu não vou te fazer entender”.

Do erudito ao popular, os alunos aprendem que não existe uma cultura melhor que a outra, mas que as diferenças encontradas devem ser respeitadas. Para Flávia Melo Souza, uma das coordenadoras da Escola de Música da Rocinha, que trabalha lá há 14 anos, a instituição tem a responsabilidade de ampliar o conhecimento desses jovens. “Nós trabalhamos com diversos estilos musicais e muitas vezes eles não gostam, porque não conhecem. Nossa proposta é acabar com o preconceito deles”, comenta. Ela também acredita que o contato com essa diversidade musical aumenta o senso crítico dos alunos, que podem entrar para o grupo até os 16 anos.

A intenção inicial era montar uma orquestra na favela e fazer coisas mais básicas, como aulas de flauta e violão. Mas formação erudita era algo tão diferente do contexto vivido na Rocinha, que o que era apenas passatempo na cabeça de alguns se transformou numa grande instituição com o objetivo de valorizar a música popular brasileira. Hoje, o repertório selecionado pelos professores para ser trabalhado em sala de aula é bastante diversificado.

A questão do funk, já não é mais um problema para Flávia. “Alguns alunos simplesmente não vão gostar do que for novo, do diferente. Eles gostam do funk, gostam de ouvir funk. Foi quando eu percebi que a EMR ia trabalhar com o funk também.” A partir disso a coordenadora começou a procurar por funks com letras variadas e interessantes, para assim, aprimorar o ritmo carioca. Foi então que ela acabou se aproximando do APAFunK (Associação dos Profissionais e Amigos do Funk), que busca acabar com a discriminação em torno do funk e sua criminalização. “Para mídia, é mais interessante divulgar esse funk com cunho sexual, mulheres frutas e pobre de conteúdo. É preciso mostrar que tem muita coisa boa e de qualidade sendo produzida na favela.” finaliza.

Sucesso não divulgado

A Escola de Música da Rocinha tem apenas 18 anos de idade, mas tem um currículo de gente grande, como uma participação no show do ex-líder do Pink Floyd, Roger Waters, em especial de natal do Roberto Carlos e apresentações fora do Brasil. Mesmo com todos esses triunfos ainda é pouco valorizada  pela grande mídia e  encontra algumas dificuldades na hora de divulgar seus trabalhos.

Alunos da Escola de Música da Rocinha tocam com Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd

Alunos da Escola de Música da Rocinha tocam com Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd - Foto: Divulgação

A Escola de Música da Rocinha foi fundada em 1994 pelo alemão Hans Koch. No começo, o espaço para as aulas foi cedido por uma igreja, onde se encontravam apenas 14 alunos. Agora, situado no Centro de Cidadania Rinaldo De Lamare, em São Conrado, a escola tem cerca de 150 jovens matriculados.

A mudança não é somente estrutural. Para Mariana Martins, de 19 anos, aluna da EMR, a escola funciona como uma espécie de complemento na educação das crianças. “Estudo lá desde pequena e no início ela me ajudou bastante na escola. Eu era muito inquieta, tinha muita falta de atenção. A disciplina necessária para aprender a tocar um instrumento me deixou mais concentrada, mais calma. Aprendi também a escutar os outros” comenta.

Mas a EMR já passou por situações bem difíceis. Sem patrocínio durante um período, a EMR teve que contar com aqueles que acreditavam no trabalho da instituição e tinham a disponibilidade de trabalhar sem garantia de remuneração.

Atualmente, as questões financeiras da Escola de Música da Rocinha ainda aparecem como um obstáculo que dificulta a divulgação e ampliação do projeto. Os coordenadores acreditam inclusive que na própria comunidade ainda existam pessoas sem muito conhecimento sobre a escola. Mas isso não tem sido obstáculo para o sucesso. Prova de um trabalho bem feito, são os diversos grupos já lançados pela Escola de Música. A BanDaCapo, formada por seis jovens da comunidade, gravaram CD e fizeram uma turnê na Alemanha. Outro grupo formado pelos jovens da escola, o Chorando à Toa, além de sempre tocar pelos bares da Lapa, também fez uma turnê na Alemanha. O que era apenas um hobby, hoje pode ser profissão. Atualmente, sete jovens da Rocinha estão cursando licenciatura em música na Unirio e todos são alunos ou ex-alunos da EMR.

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