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02/02/2011, 13:57h | Notícias, Perfil

Recomeçar é possível

Por Cecília Olliveira

Júlia*, com o livro que publicou sua redação vencedora do concurso. Foto: Ação Comunitária do Brasil

Júlia*, com o livro que publicou seu texto vencedor do concurso Projeto Redação. Foto: Ação Comunitária do Brasil

Maus tratos na infância e muitas dificuldades não tiraram os sonhos da adolescente Júlia*. Atualmente ela é repórter da TV Novo Degase, um projeto da Ação Comunitária do Brasil e teve recentemente uma redação sua selecionada pela Associação Brasileira de Imprensa como uma das melhores das escolas públicas do estado do Rio de Janeiro. O concurso, Projeto Redação, é promovido há 10 anos pelo jornal Folha Dirigida, em parceria com a Fundação Biblioteca Nacional e a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro.

Sua mãe hoje está internada em um sanatório, enquanto Júlia cumpre medida socioeducativa no Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) no Rio de Janeiro. Júlia saiu de casa ainda nova, quando conheceu “o amor de sua vida”. Atualmente já retomou contato com ele, para viver a vida que sonhou em liberdade ao seu lado.

“Hoje minha mãe está bem, faz tratamento, toma os remédios certinho. Minha vida também está tranqüila. Antes eu não tinha o apoio da minha família, não tinha estudo. Passei pro segundo ano agora e quero fazer o Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica), cursar o segundo e terceiro ano junto com o curso técnico e fazer Petróleo e Gás, já que eu quero trabalhar na Petrobras”, diz a jovem, que se diz eclética e é aluna também da Escola Popular de Comunicação Crítica do Observatório de Favelas (Espocc).

TV Novo Degase
Lançado em maio de 2010, numa parceria entre o Novo Degase e a Ação Comunitária do Brasil, a TV Degase produz programas divulgados para o grande público na internet, através dos sites do Degase e da Ação Comunitária, e também veiculados nas unidades. Todo o projeto é supervisionado por uma equipe de pedagogos e psicólogos. Seu objetivo é promover o resgate da identidade e da autoestima dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa, fazendo com que desempenhem funções nos bastidores da produção. Esse tipo de trabalho pretende gerar a integração entre os jovens e fazer a divulgação do trabalho realizado dentro do Degase, que ainda é desconhecido por grande parte da sociedade.

“Queremos mostrar aos jovens e adolescentes que o mundo pode melhorar, que o mundo não é só grade e muro. A gente pode realmente conseguir o que a gente quer, os nossos sonhos”, lembra a jovem repórter, que já entrevistou até o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral.

De acordo com o Degase, esta é a chance que os jovens terão de aprender sobre cinema. “Juntamente com a TV, são oferecidas duas oficinas. Uma será de roteiro, que terá leitura e produção de textos, e a outra sobre práticas cinematográficas, que trará noções de luz, produção para cinema, operação de câmeras, etc”.

Assista ao primeiro programa da TV Degase

Redação Vencedora
Na redação que foi escolhida uma das melhores do Estado, a adolescente narra sua vida, e deixa claro que desistir não faz parte dos seus planos: “Com cada curso, aprendo uma nova lição. Aprendo o valor da família, do perdão, do estudo e da vida. Perdoei a minha mãe, que se encontra fazendo tratamento, e está muito bem tomando a sua medicação. Aprendi que nunca é tarde para recomeçar a viver. Que todo ser humano é digno de uma nova chance. Aqui no Dumont, eu aprendo com a história de cada menina, agente, professor, psicólogo e o diretor. Uma vez um agente me emprestou um livro chamado ‘Tarde demais para chorar e cedo demais para morrer’. Este livro diz que muitas pessoas se suicidam porque estão cansadas de sofrer. Se elas pudessem por um dia visitar os hospitais, as crianças com câncer, leucemia, as criancinhas que nunca puderam andar, como o sofrimento delas é maior e mesmo assim não desistem de viver, tenho a certeza que essas pessoas iriam repensar as suas decisões. Eu diria a elas: ‘Não desistam!’”, escreveu Júlia em sua redação.

* nome fictício

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