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23/09/2009, 13:02h | Entrevistas

Prêmio Polícia Cidadã

O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (CESeC) realizou, no dia 14 de setembro, a primeira edição do Prêmio Polícia Cidadã do Estado do Rio de Janeiro. A iniciativa se baseou nos moldes no Prêmio Polícia Cidadã realizado há quatro anos em São Paulo pelo Instituto Sou da Paz e que tem como proposta valorizar as ações policiais voltadas para a redução da violência e as práticas cotidianas criativas realizadas pelos profissionais das polícias.

Silvia Ramos, pesquisadora do CESeC, durante debate na inauguração do Centro de Referência LGBT do Grupo Conexão G, na Maré. Foto: Rosilene Miliotti / Imagens do Povo

Silvia Ramos, pesquisadora do CESeC, durante debate na inauguração do Centro de Referência LGBT do Grupo Conexão G, na Maré. Foto: Rosilene Miliotti / Imagens do Povo

A primeira etapa da seleção teve 183 ações e 500 policiais inscritos, cujas atuações foram analisadas por um júri misto, formado por três coronéis da Polícia Militar, dois delegados da Polícia Civil e cinco pesquisadores e ativistas da sociedade civil. Eles analisaram desde o histórico dos policiais e das ações, até o material de apoio que os competidores enviaram para avaliação.

Na cerimônia de premiação, no Teatro Carlos Gomes, no Centro do Rio, os representantes das oito ações das polícias civil e militar e das três menções honrosas vencedoras subiram ao palco para receber o troféu e R$ 5 mil pelos projetos desenvolvidos.

Para saber as motivações que levaram à criação do primeiro Prêmio Polícia Cidadã do Rio de Janeiro e como foi o processo de seleção, conversamos com a pesquisadora Silvia Ramos, coordenadora do CESeC.

Como nasceu a ideia de trazer o Prêmio Polícia Cidadã para o Rio de Janeiro?
Primeiro porque avaliamos que existe uma pouca aproximação entre a sociedade civil e a polícia. Quando resolvemos realizar o prêmio, não sabíamos se essa decisão ia resultar em coisas boas, por isso nos baseamos em uma experiência que já tinha sido bem sucedida como foi em São Paulo, organizado pelo Instituto Sou da Paz.

Quais são os objetivos centrais do prêmio?
A cidade do Rio de Janeiro tem relações muito problemáticas e traumáticas com a polícia. Quando se fala em polícia no Rio, logo vem à cabeça acontecimentos e imagens ruins sobre ações de violência e confrontos entre a população e os policiais. E para os moradores de favelas, além das imagens, vêm também as lembranças das práticas. Essa é a imagem negativa recorrente quando se fala em polícia. Quisemos ir exatamente neste ponto, buscando outras imagens para essa relação conflituosa.

Em relação aos policiais, como eles foram motivados a participar?
A idéia do prêmio foi ver como os policiais reagiriam ao serem chamados pelas boas práticas em segurança na cidade, mas havia vários riscos. Um deles foi o de recair na figura do policial herói e não era esse o objetivo. Não queríamos premiar as questões de heroísmo, mas atitudes cotidianas, de dia-a-dia, sem grandes repercussões, que, por sua criatividade, podiam ser reconhecidas como ações inteligentes da polícia.

Então o CESeC quis premiar as ações de ponta?
Exatamente. Nunca pretendemos perder a crítica ao premiar uma prática criativa da polícia voltada para a segurança cidadã. O fato de premiarmos certas ações não significa que nos calamos frente a alguns abusos, a ações que resultem em letalidade. Não é isso. E também nós premiamos as ações policiais e não uma ou outra determinada política de segurança. O prêmio é um reconhecimento da ponta de atuação.

Como esse prêmio pode ser visto em relação às iniciativas para redução e prevenção da violência letal?
Nós não achamos nem temos a ilusão de que premiar as ações cidadãs tenha como decorrência reduzir a violência letal no Rio de Janeiro. Sabemos que essa violência é uma prática naturalizada já, e disseminada de uma forma muito forte.

Houve um acontecimento específico com uma das práticas policiais inscritas para o prêmio, que foi eliminado da concorrência. Como se deu isso?
Sabíamos que isso poderia ocorrer, ou seja, a situação de vermos concorrer ao prêmio ações policiais que misturassem os procedimentos com mortes. E também tínhamos outro risco: o de premiar um policial hoje e mais tarde ver este mesmo policial envolvido com ações de violência letal. Mas esse caso mostrou que para que os próprios policiais se sintam valorizados, eles devem pensar duas vezes antes de proceder com violência.

Então como evitar essas situações?
O prêmio não tem antídoto, não tem como assegurar que essas duas coisas não aconteçam. Temos que tomar o máximo de cuidado. Depois que as ações são apresentadas, vai uma equipe de pesquisadores in loco, para ver se é verdade mesmo aqueles pontos descritos sobre a ação. Conversa-se com moradores, comandantes e beneficiários em geral dessas ações. No caso da ação desqualificada, pudemos saber dos óbitos porque um comandante mencionou que havia tido mortes durante a operação, assim esse concorrente foi retirado da disputa antes mesmo que déssemos prosseguimento à análise em todas as etapas. Essa ação não chegou a concorrer. Assim temos a opção de fazer com riscos ou não fazer. Optamos por fazer a edição do prêmio.

E essa visita a campo, como foi realizada?
Quem ia a campo eram estudantes de graduação e mestrado da área de Ciências Sociais, todos treinados pelo CESeC. Visitaram ação por ação, projeto por projeto. E o interessante é que essas visitas não serviam apenas para verificar a veracidade da prática policial no território, mas muitas vezes também servia para que a gente pudesse apurar elementos muito interessantes dentro das práticas que os policiais não tinham se atentado antes, quando apresentaram a candidatura ao projeto.

E quanto à formação do júri? Por que esta composição mista?
Esse júri meio a meio foi copiado do Prêmio Polícia Cidadã feito em São Paulo. Com policiais civis, militares e sociedade civil entendemos que chegamos a um resultado que expressa os interesses tanto da sociedade civil, quanto dos policiais. Com uma iniciativa dessas a gente acaba mudando um pouco o olhar sobre a polícia, já que a gente, enquanto sociedade civil e pesquisador, tem a oportunidade de entrar em contato com o dia-a-dia dos policiais. E por um outro lado, isso também ajuda a própria polícia a se tornar melhor. Valorizando o que existe de bom nas organizações policiais os policiais se sentem mais valorizados, a responsabilidade pesa mais e também acabamos nos modificando, modificando nosso olhar e as imagens que fazemos. Na verdade os preconceitos e alguns olhares são na verdade produto da distância da proteção, o que uma aproximação mais efetiva acaba mudando.

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